N: Depois de muita conversa, você finalmente aceitou o convite da People Training para fazer parte do nosso projeto. Conta para nós, você estava conversando com muita gente sobre o mesmo assunto?
J: Não. Infelizmente para mim (risos), ninguém me abordou com propostas de parceria semelhante a People Training. Aliás, nesta área de storytelling ninguém no Brasil havia me convidado a nada.
N: Era uma coisa que você pretendia fazer?
J: Pois é… cada vez que penso em fazer alguma coisa, grande ou pequena, penso sempre no ineditismo. Hoje em dia há sempre pessoas maravilhosas que fazem coisas maravilhosas em todas as áreas em que atuo. Então, o que vem à cabeça quando planejo oferecer um novo serviço é que, já que não há como mensurar que será o melhor, ninguém tem como medir isto, planejo ser o pioneiro no serviço que oferecer. Acho até que todo mundo que oferece um serviço, ou produto, tem por obrigação lutar para ser o melhor, mas ser pioneiro, ser o primeiro a oferecer alguma coisa pode te dar alguma vantagem.
N: E agora que você aceitou trabalhar com consultoria de estória no Brasil, quais os seus planos?
J: Decidir como vou traduzir “story consultant”. (riso)
N: A People Training está investindo na tradução mais adequada…
J: Bem, então vou para o restante do plano! O Storytelling Group será um grupo especial e específico de pessoas que julgo, julgas tu também, que serão chave na implementação de técnicas que estamos desenvolvendo essencialmente para o mercado brasileiro. Estou preparando uma metodologia em que espero utilizar o que há de mais contemporâneo e adaptar às necessidades e expectativas do brasileiro que queira, por exemplo, ser capaz de discernir se um determinado princípio expresso através da utilização de um determinada técnica serviria para incrementar o processo de comunicação dentro de sua empresa, vender melhor o seu produto ou, algo tão simples como turbinar uma palestra que esteja preparando. Vejo que a influência da tradição norte-americana é imensa, mas que nem sempre agrada fora dos Estados Unidos. No outro dia eu assistia um comercial de uma empresa vendendo casas de luxo, que utilizava métodos de storytelling tipicamente norte-americanos, o resultado é que achei que estavam vendendo hambúrgueres ou aspirina.
N: …mas os princípio de storytelling não são universais.
J: São. Mas devem ser filtrados pela cultura. Ou o tiro sai pela culatra, tudo fica com jeitinho de ‘sessão da tarde’. Pessoalmente acho bonitinho, não tenho nada contra, muito antes pelo contrário. Mas voltando ao que eu dizia, pretendo adaptar técnicas com base em outras tradições e desenvolver métodos que possam ser de interesse de uma audiência local e, se ‘traduzidos’ adequadamente poderão ser de interesse de uma audiência mundial, mas com a voz do Brasil. Quem quiser verificar – salvo aqui maravilhosas exceções –, se souber inglês, poderá dublar um comercial americano para português e assistir depois, prestando atenção na narrativa. A ‘voz’, estou aqui emprestando o termo da literatura, embora esteja em português, tem gosto de norte-americano, de estrangeiro.
N: O que você colocou nesta cesta de tradições que podem vir a ser inéditos no Brasil.
J: Não muita coisa, para dizer a verdade. Pretendo usar as minhas mais de três décadas lidando com língua e literatura, a minha, creio eu, longa experiência com narrativas de ficção e capitalizar, além de na universalidade dos princípios de storytelling, em tradições norte-americanas, europeias – a França, Alemanha e Inglaterra tem muito a dizer -, China, Índia, Japão e sobretudo o Brasil. Que contribuição a riqueza cultural brasileira tem a oferecer, a colaborar com o que irá na cesta a que você se referiu.
N: Principalmente, você é um especialista em desenvolver pessoas.
J: Isto é uma questão de opinião, mas suponho que tenha um fundo de verdade, ou eu já estaria fora desta profissão há tempos.
N: Você vai mostrar as regras…
J: Desculpa lá. (risos) Serão princípios.
N: Ah! sim, princípios (risos). Então, explique.
J: Pretendo treinar o grupo para entender e aplicar os princípios do storytelling dentro daquilo que já fazem, mas também que sejam capazes de divulgar os benefícios de uma narrativa mais bem estruturada para vender uma ideia – vai ter o lado ‘intelectual’ e o lado prático, algo como ‘contar a mesma história para americano ver, inglês ver, francês ver, chinês ver… Para gente diferente, “vende-se” de jeito diferente. A experiência em ministrar um treinamento deste nível com um grupo como o que conseguiste para nós será de uma responsabilidade enorme. Nos dois dias e meio do encontro não vou me ater a vender produtos ou serviços, mas apenas ao que está por trás de tudo isso. Não vamos trabalhar, por exemplo, estratégia de marketing, até porque não seria a minha especialidade, mas quero instrumentar o grupo para que, se algum deles tiver de planejar uma estratégia de marketing terias mais subsídios para decidir se isto funcionaria melhor do que aquilo. Em encontros futuros, ou em consultorias individuais, aí sim, poderemos falar, digamos, sobre como se tem utilizado histórias para promover marcas em épocas diferente e em culturas diferentes. Hoje em dia o pessoal se encantou com a tecnologia, inclusive eu!, mas não podemos perder o foco na narrativa. Todo mundo gosta de andar, estar engajado, e estória engaja.
N: Você é um simplificador, isto é complexo e você fará isto simples para a gente…
J: Justamente aí está a razão do meu entusiasmo pelo teu convite. Os princípios do storytelling são intuitivos, acende-se meia dúzia de luzinhas e estamos todos iluminados, depois, se precisar se aprofundar, lê Henry Jenkins…
N: Volto a repetir, você é um simplificador em seus cursos para autores.
J: Simplificar não é ideia minha, o bom coach, ou professor, se quiseres chamar assim, tem que ser um tremendo de um simplificador, passa rapidinho pelos argumentos, debates e dúvidas e vai direto à solução que todo mundo entende e que se aplica no ‘aqui e agora’. Tu vês, só na Amazon tem mais de trinta mil livros sobre como escrever ficção, o meu trabalho num treinamento é simplificar, mostrar que ‘isto é o essencial’ e ajudar o participante a aplicar ao SEU texto. O mesmo pretendo fazer com os princípios do storytelling e mais tarde com as consultorias de estórias, o story consultancy, quando alguém vier a mim… (riso).Vamos ter de traduzir story consultant.
N: Você sempre evita usar termos em inglês. E você fala inglês…
J: Não quando estou falando português. Gosto de ser entendido por todos, se digo ‘story consultancy’ ou ‘consultant’ estarei falando para um nicho. Outra, se falo em inglês, estarei fazendo o jogo do anglo-saxão. Estarei nas entrelinhas dizendo que os ‘americanos são bons nisto’. Até acho que são, mas no momento a narrativa americana está um caos, a narrativa europeia está complicada. Sou a favor de essas coisas serem recriadas no Brasil, o que o Brasil tem a oferecer ao mundo é inesgotável.
N: Além de simplificador você tem este senso de comunicador.
J: Para mim é natural querer ser entendido. Ninguém tem obrigação em fazer qualquer esforço para me entender. Se um grupo de pessoas vem a mim, como o nosso grupo de Canela agora em outubro é porque falo e eles entendem e eu entendo o que eles falam, do contrário iriam fazer o mesmo treinamento nos Estados Unidos ou assistiriam centenas de palestras em inglês no YouTube, aliás de graça! Se eu ficar falando inglês o meu pioneirismo poderá ir por água abaixo.
N: Você é quem diz! E aliás, digo eu, participar ao vivo com você num evento nunca vai ser o mesmo que YouTube. Você tem o dom de criar um clima…
J: Tens razão. Sem o ‘clima’ não há empatia, sem a empatia não há comunicação, daí não adiantaria simplificar nada porque ninguém entenderia.
N: Verdade. E, para encerrar, quais os seus planos para o futuro.
J: Nesta área, para o futuro distante ainda estou examinando desenvolvimentos recentes para delinear caminhos. Quanto ao futuro próximo, pretendo seriamente investir no desenvolvimento de grupos como este que me proporcionaste, da parceria da minha empresa com a tua consultoria. Abri um novo estúdio no Reino Unido que já está de vento em popa, lidando com dois bons projetos transmídia, mais um filme e continuo expandindo o meu network, a minha meta para o ano que vem é voltar outra vez os olhos para os Estados Unidos, Espanha e alguns outros países que começarão a sair da crise e buscar novos parâmetros, o ‘parâmetro Brasil’ fará parte da minha narrativa, aliás, já faz, quando converso com eles.
N: O que vai mudar no que você vinha fazendo?
J: Absolutamente nada. Isto é, tenho de ouvir feedback e fazer melhor. Mas continuo aceitando meus vinte e cinco autores ‘tutoriados’ ao ano, a agência está sendo reformulada para melhor refletir a demanda, a minha sócia em São Paulo faz um trabalho excepcional. O meu projeto especial, que chamo de Book in a Box vai engatinhando, estou com uma empresa que pretende promover, a minha esperança é que no próximo ano já surjam resultados concretos. Estaremos de sites novos em breve, o da agência vai ao ar esta semana, os demais, logo que possível.
N: E o storytelling…
J: Já o meu novo estúdio, de storytelling/transmídia/translíngue tem como foco auxiliar na construção de uma narrativa mais adequada aos propósitos de quem de mim necessitar para contar as suas histórias, seja uma corporação ou, por exemplo, um indivíduo que pretenda se candidatar a um cargo público, ou que tenha preparado uma apresentação e gostaria da minha opinião, que tem uma palestra em Espanhol vai precisar adaptar ao Brasil ou ao Canadá. São projetos bem específicos. Sei que preciso de gente que trabalhe comigo, aos poucos espero ir agregando as pessoas certas nos países certo.
N: O novo estúdio é muito bonito.
J: O local é muito bonito. Mesmo para quem mora na Europa, as pessoas saem do prédio, dobram a esquina e deixam escapar um ‘uau’. Quero passar a ideia de solidez, de alta tecnologia, sem esquecer o lado humano das microcomunidades, da qualidade de vida que se pode terno século 21. Criei um ambiente que nada tema a ver com uma sala em que se faz uma reunião corporativa, na minha sala, por exemplo, tem uma mesa de jardim, cadeiras desmontáveis para adequar o espaço ao número de pessoas e almofadas no chão. Neste ambiente de jardim de infância a criatividade aflora.
N: Você tem coragem e visão.
J: Tu és que tens coragem, e muita visão. Espero que a parceria com a People Training traga muitos bons frutos.
Mas, pois bem, voltando ao que eu ia dizer, regras são feitas para serem quebradas, ou pelo menos distorcidas – não sempre, não muito, mas de vez em quando. Se não estudares as regras, não vais saber quando ignorá-las. Se ignorares as regras, não vais saber quando aplicá-las.
N: Hmmm…
J: Repito, as regras são feitas para serem quebradas, ou pelo menos dobradas. Claro, não vai se sair por aí distorcendo e quebrando só por quebrar, mas quando for adequado. Se tu estudares as regras, não vais saber quando ignorá-las. Por outro lado, tens de estar sempre ciente das regras, se as ignorares, não vais saber quando aplicá-las. Daí eu achar que posso ser pioneiro em ajudar um grupo de brasileiros a entender e aplicar tudo isto. E, continuando, ao estudar os princípios, virás a perceber quando se deve aplicar a regra e quando aplicar a sua exceção.
N: Além de profissional de muita visão, você é generoso com seus clientes. Sempre oferecendo “presentinhos” e nessa parceria com a People Training não será diferente. Sou grata a você por ter aceitado o meu convite e feliz por tê-lo abordado primeiro. Esse meu sonho vem desde 2008 quando aprendi Hipnose Ericksoniana, apaixonei-me pelas metáforas, em especial, pelos resultados que elas proporcionam. Aprender a criar estórias ou narrativas bem estruturadas é fantástico!